quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Ira da consciência

Anteriormente, disse que nossas certezas são as maiores barreiras para a convivência em comunidade, já que as convicções dificultam a capacidade de aceitarmos o outro.

É natural defendermos interesses íntimos, afinal o instinto de sobrevivência tem lá sua relevância. No entanto, esse "individualismo" é fruto do ego exacerbado, estimulado pelo consumismo. Aliás, este último, ao longo de séculos, tornou-se base fundamental da estrutura do mundo contemporâneo: do modo de subsistência, passando pela industrialização e finalmente o sistema financeiro, o que nos tornou reféns do capital (dinheiro).

Quando discuto o assunto com amigos, percebo que o debate esquenta em um ponto. Para alguns, o homem tem responsabilidade direta sobre a sua condição de vida. Para outros, como eu, acreditamos que a influência e a falta de reflexão, são os males que dificultam o equilíbrio da natureza humana.


Quem define as prioridades da vida em sociedade (comunidade) afinal? O ser humano é crítico ao contexto que objetiva. Ao menos deveria ser. Pelo contrário, os estímulos são direcionados para modos perversos de entretenimento (distração, passatempo) e regras (normais, padrões, sistematização e burocracia), com um único propósito - o mais profundo estado de alienação. Processo inteiramente em desequilíbrio com a natura dualista (racional/instintiva) do homem.

No livro Cultura e Democracia(Marilena Chauí), a autora esclarece que as culturas imperialistas submetem as comunidades ao autoritarismo. Alerta ainda que esse cenário propicia levantes populares e, que a própria história já mostrou isso. Os helênicos provavelmente sabiam disso ao conquistar o oriente, Alexandre (O Grande) introduzia a sua cultura aos vencidos, mas preservava a cultura local e, em certos casos, até os imperadores derrotados. A ideia é dispensável quando não é associada à reflexão - qualquer núcleo social induzido a expectador da realidade, jamais desenvolverá um sistema social equilibrado e justo (democrático).

Viver em comunidade sugere reflexões a cada postura tomada por cada um de nós, em virtude da natureza cooperativista que a humanidade optou ao deixar de ser nômade e passar a viver em sociedade.

É possível justificar as catástrofes naturais, conflitos sociais e até mesmo a incerteza de futuro da humanidade, aos objetivos contemporâneos supérfluos. O direito à dignidade e a vida, "substituído" pelo desejo individual e à propriedade. As culturas: indígenas, orientais e outras, são obrigadas a se adequarem ao consumismo (ou como afirmava Marx – “fetichismo da mercadoria”). Não foram essas sociedades oprimidas que decidiram por isso, mas as opressoras; elites culturais que sempre definiram o destino de toda a humanidade.

Não se trata da luta do "bem contra o mal", mas de achar o equilíbrio entre instinto e a razão em cada ser humano. Quando somos induzidos aos extremos, é a barbárie que predomina.

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